Os males da liberdade se corrigem com mais liberdade!

I should have loved freedom, I believe, at all times, but in the time in which we live I am ready to worship it.
- Democracy in America - Volume 2, Alexis de Tocqueville - Sever and Francis, 1864

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

O ato contra a liberdade de imprensa


Uma sinopse do “ato contra o golpismo midiático” no sindicato dos jornalistas

Marlene Bergamo/Folhapress
Bruno Abbud
Às 19h26 desta quinta-feira, a sede do sindicato dos jornalistas de São Paulo hospedou um “ato contra o golpismo midiático”, protesto planejado por um certo Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé. Entre os fundadores e líderes da entidade estão Paulo Henrique Amorim e Luiz Nassif. Nenhum dos dois estava lá. Um palco apertado abrigava representantes do PT, do PCdoB, do PSB, do PDT, da CUT, do MST e de outras siglas parceiras.
O primeiro orador foi o blogueiro Altamiro Borges, presidente do Centro Barão de Itararé. Exortou as 200 pessoas da plateia (outras 200 estavam do lado de fora) que se engajassem numa campanha em solidariedade à revista Carta Capital, excluída do complô dos golpistas midiáticos. Borges também recomendou-lhes que comprassem assinaturas de publicações “comprometidas com os movimentos sociais”. E desafiou a vice-procuradora geral da República, Sandra Cureau, a “tornar públicos os contratos publicitários das grandes empresas de comunicação, como a Editora Abril, o Grupo Folha, o Grupo Estado e a Rede Globo”. Nada disse sobre os contratos publicitários celebrados entre as publicações que aprecia, ministérios e empresas estatais.
A animada plateia se compunha majoritariamente de jovens de barba rala, senhores grisalhos de cabelos longos, professores da rede pública e sindicalistas diversos. Enquanto Borges berrava no palco, os ouvintes gritavam  “imprensa golpista!” e erguiam placas com a inscrição  “Folha mente!”. O calor não inibiu o entusiasmo. Uma mulher gorda e baixa, especialmente agressiva, protagonizava acessos de ira santa ao ouvir críticas à imprensa — ou a “velha mídia”. Perguntei se ela sabia quem estava diante do microfone.  “É o Mino, Mino Carta”, respondeu. A amiga confirmou: “É o Mino Carta”. Mas Mino Carta não estava lá. Quem gritava no pequeno palanque era o mesmo  Altamiro Borges do início. O blogueiro.
O presidente do PCdoB, Renato Rabelo, acusou a imprensa de conspirar contra Dilma Rousseff e berrou: “O que eles querem mesmo não é simplesmente uma tentativa golpista de impedir o favoritismo de Dilma Rousseff. Eles vão além. É conspiração! Conspiração! É golpismo e conspiração!”. Pouco depois, a multidão começou a berrar e aplaudir desesperadamente uma nova convidada. Luiza Erundina, representando o PSB, apareceu na porta de madeira escura às 20h06. Subiu o degrau do palco com a ajuda do representante do MST, Gilmar Mauro, e forçou a garganta para dizer que o PSDB tinha inveja do governo do “primeiro operário deste país”, que segundo ela “deu certo”.
A plateia queria o discurso de algum representante do PT. Gritavam em apoio à candidatura de Dilma Rousseff. Atrás do palco, entre a mesa e a parede, Vagner Freitas, representante da CUT, puxou a camisa de um dos organizadores barbudos do sindicato: “E o PT? Não veio ninguém?”, perguntou em voz baixa. O organizador respondeu: “Não veio ninguém”. A plateia não parava de berrar contra a imprensa. Bebel Noronha, presidente do Sindicato dos Professores, abanava-se com um folheto e acumulava na altura da barriga uma poça de suor que atravessava o vestido de tecido cinza – minutos depois, saiu à francesa.
Pouco antes de encerrar o evento, Altamiro Borges anunciou que um tal de João Felício, do PT, estava chegando para representar o partido no ato. A plateia sorriu, comemorou e aplaudiu a notícia. Menos de cinco minutos depois, Borges disparou: “O João Felício não vem mais. Declaramos encerrado o ato”. A multidão contestou pouco e começou a sair. Repórteres da TV CUT, TV Aberta, do Estadão, da Folha e do G1 esperaram o salão esvaziar para gravar entrevistas com os organizadores do evento.

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